Para mim, abril e maio são aqueles meses que sempre acabam se mesclando em uma coisa só. Tive que fazer um trabalho grande para separar, aqui, só o que li no primeiro dos dois, mas, na vida pessoal, trago duas notícias ótimas que recebi no segundo, mas que não consigo ficar segurando:
A primeira notícia, se você me segue no Instagram e vê meus stories, já deve ter visto: vou publicar meu segundo livro de contos! Escolhi chamá-lo de Repare na sombra, e, assim como meu primeiro, Cães Noturnos, é uma reunião de 20 contos insólitos organizados em duas partes com 10, cada, e os contos de uma se relacionam com os contos de outra. Os dois, na verdade, poderiam ser considerada uma duologia de histórias independentes que possuem, também, correlações temáticas entre os dois livros: duas partes do meu projeto literário sobre o insólito.
Repare na Sombra vai sair de novo pela Laranja Original, e isso me traz para a segunda notícia: Cães Noturnos vai ganhar uma reimpressão! Todo mundo que escreve e publica ficção no Brasil sabe como é difícil conseguir ser lido, ser lida, e como é difícil vender livros físicos. Então, a notícia de que a primeira tiragem de Cães Noturnos esgotou pouco menos de dois anos depois do lançamento, e que uma nova impressão vai ser feita, me enche de uma felicidade tremenda! Sou muito grato a todos, todas e todes que se interessaram pelas minhas histórias, e por todos, todas e todes que ainda se interessarão.
Em breve trago mais updates sobre esses dois livros, então me siga lá no Instagram, ou assine aqui no Substack, para ficar sabendo de primeira mão!
Pronto, recados dados! Vamos às leituras que fiz no mês de abril:
Alamut - Vladimir Bartol
Editora Morro Branco. Tradução de Alexandre Boide. 576 páginas.
Talvez uma das leituras mais surpreendentes que fiz esse ano, esse romance de Vladimir Bartol foi uma das maiores inspirações para Assassin’s Creed, a franquia de videogames bons e meia-boca, e de um filme bem meia-boca. Lembro que, como fã de alguns dos jogos, comprei esse livro assim que saiu pela Morro Branco em 2022, com tradução de Alexandre Boide. Mas só agora fui ler e, para minha surpresa, o que os jogos pegaram foi apenas uma gota do oceano que é esse romance histórico-filosófico.
Ambientado na fortaleza de Alamut no século XI, na Pérsia (atual Irã), Alamut acompanha diversos personagens envolvidos na rede de intrigas, conspirações e romances que marcaram a criação da ordem dos assassinos, extremistas ismailitas usados como armas em conflitos contra o Império Seljúcida que dominava todo o Oriente Médio. Esse é um livro que conversa muito com outro, Samarcanda, de Amin Maalouf, lançado pela editora Tabla, pois cobrem o mesmo período e o mesmo conflito, mas cada um se aproxima de pensadores de cada lado do conflito. Enquanto Samarcanda se aproxima do poeta Omar Kahyyam, Alamut se aproxima de Hassan ibn-Sabbah, líder dos ismailitas. Os dois foram amigos na juventude, mas se aliaram aos lados opostos dessa guerra. Sinto que, com a leitura deste, completo uma visão mais aprofundada da coisa toda, e sinto que, diante das movimentações da extrema-direita no mundo, precisamos ler mais histórias como essas.
Enquanto escrevia esse resumo aqui, nao aguentei e soltei uma micro resenha lá no Instagram:
Coisas piores - Gabriela García Robayo
Editora Moinhos. Tradução de Silvia Massimini Felix. 113 páginas.
Aproveitando um cupom de promoção da editora Moinhos, resolvi conhecer esse curtinho livro da colombiana Margarita García Robayo, e o que encontrei foi uma aula de construção das formas breves. Em 7 histórias, Robayo trabalha muito bem o recorte, usando do que não se mostra para aprofundar as histórias e os personagens trágicos que criou.
Não vou me estender muito por aqui, pois gostei tanto que também falei dele direto lá no meu Instagram:
O que é meu - José Henrique Bortoluci
Editora Fósforo. 144 páginas.
Leitura 1 de 2 do mês no clube de leitura do Sebo Pura Poesia, esse livro de memórias de José Henrique Bortolucci me arrebatou. Se for resumi-lo em poucas palavras, eu diria: uma porrada histórica sobre o último século do Brasil. Partindo de uma biografia de seu pai, um caminhoneiro que passou 50 anos transportando cargas pelo país durante e após a ditadura, Bortoluci cria em O que é meu um retrato historiográfico e sociológico do Brasil a partir dessa classe, identificando pontos de conivência e de conflito com o regime militar, e traçando pontos de contato com eventos marcantes do desastre politico-social-ambiental que nos abateu entre 2018 e 2022. E tudo isso em apenas 144 páginas!
Deixo aqui esse trecho para te convencer a dar uma olhada:
Sob o olhar do colonizador, a Amazônia e seus povos são o coração das trevas, e a rodovia é o rio por onde pode escorrer a civilização (e os lucros). A floresta e seus povos se convertem em obstáculos em uma marcha fúnebre do progresso tocada por tratores, caminhões, bois, motosserras, pólvora. Como pressagiou Heidegger: “a usina hidrelétrica não está instalada no Reno, como a velha ponte de madeira que, durante séculos, ligava uma margem à outra. A situação se inverteu. Agora é o rio que está instalado na usina”. A floresta está instalada na rodovia, esse monumento vivo de nossas catástrofes.
Monique se liberta - Édouard Louis
Editora Todavia. Tradução de Marília Scalzo. 96 páginas.
Livro 2 de 2 do mesmo clube de leitura, Monique se liberta foi meu primeiro contato com a obra autobiográfica de Edouard Louis. Confesso que, depois de ficar embasbacado com Bortoluci, este não me causou grandes impactos, e passei pelo livro como se passasse por um corredor.
Nele, Édouard Louis conta sobre o momento em que sua mãe finalmente se liberta do segundo casamento abusivo que viveu (o primeiro tinha sido com o pai de Louis). Entra em questão, aqui, o fato de a situação econômica confortável do filho ter sido um grande ponto de ajuda, mas senti que peguei uma conversa já em andamento, que fazia diversas referências a outros livros do autor, e de episódios importantíssimos de sua biografia que ajudariam a entender melhor o peso do que estava acontecendo.
Se você já leu outros livros do autor, qual recomendaria? Confesso que esse não me pegou, mas fiquei curioso para adentrar na sua obra.
Saboroso cadáver - Agustina Bazterrica
Editora Darkside. Tradução de Ayelén Medail. 192 páginas.
Imagine, agora, que um virus infectou todos os animais do mundo, tornando-os letais para a humanidade através do mero contato. Animais em zoológicos são sacrificados, pássaros são temidos, e comer carne de bois, vacas, frangos, se torna algo impensável. Ao invés de aderir a uma dieta vegana, porém, a indústria pecuária se mantém de pé, apenas trocando sua fonte de matéria-prima para a única que ainda é comestível: a carne humana.
Esse é o mundo de Saboroso cadáver, da argentina Agustina Bazterrica, uma distopia sangrenta e brutal que acompanha Marcos Tejo, funcionário de um frigorífico completamente dissenssibilizado com as práticas brutais de seu cotidiano, onde seres humanos são criados como gado para o abate. Sua visão passa a ser abalada após a perda de um filho e a separação da esposa, o que o leva a, como nós, leitores, leitoras, enxergar a barbárie organizada que ocorre à sua volta.
Escrito numa prosa ágil, com capítulos curtos, Saboroso Cadáver é um ótimo exercício de pensamento sobre a nossa relação com o mundo animal, colocando a pergunta: se isso fosse feito com humanos, nós conseguiríamos achar normal?
A resposta está aí, e recomendo demais a leitura!
Livro sobre a Cracolândia
Em meio a essas leituras, fiz também a leitura crítica de um livro de contos que me deu um tapa na cara dos bons. De autoria de alguém que conhece a fundo como funciona a Cracolândia, e escrito com um olhar empático e investigativo sobre as pessoas que acabam indo para lá, esses contos me mostraram o quão pouco eu, de fato, conhecia sobre esse fenômeno que conhecemos como a Cracolândia. Espero que, com minhas sugestões e comentários, eu possa ver esse livro sendo publicado por alguma editora em breve. Mas, por enquanto, não posso falar muito mais sobre ele.
Se você quiser contratar uma leitura crítica do seu livro, ou conhece alguém que está com um livro engavetado, ofereço esse serviço e estou com agenda aberta! Entre em contato!
Essas foram as minhas leituras (e escritas) de abril. E você, o que andou lendo? Me conta aí nos comentários!
Caderno de exercícios
No exercício de hoje, te proponho um mergulho na sua própria história. Quero que você busque uma foto antiga da sua família, pode ser da sua infância, ou de um álbum de fotos antigas guardado no armário, e escolha uma foto que chame a sua atenção. Olhe para as pessoas ali. Escreva um conto, crônica ou poema sobre essa foto.
Boas escritas!
Ajude o autor!
Compre Cães Noturnos, meu livro de contos. Antes da reimpressão, ainda há exemplares em algumas livrarias e na Amazon!
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Compre os livros através dos links que deixei nesse texto.
Contrate uma leitura crítica do seu livro, me enviando uma mensagem aqui ou no Instagram!
Até a próxima,
Ivan Nery Cardoso.
Parabéns pelo segundo livro!
Fala Ivan, parabéns pela nova publicação e também pela reimpressão. Sabemos como é difícil vender livros no Brasil, principalmente livro de contos.
Aguardando o novo livro, meu caro. Grande abraço.